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Chan Chan, o Reino de Barro


A capital dos chimus foi construída sucessivamente entre os séculos 10 e 15, quando esse povo foi dominado pelos incas. Declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1986, este complexo urbano de barro de 20 km² é considerado o maior das Américas e o segundo do mundo (Arg-é-Bam, no Irã, é o primeiro).


O conjunto tem uma estrutura complexa e original, composto por dez recintos fechados por muros e considerados, por alguns estudiosos, verdadeiras cidadelas, por outros, grandes palácios.


Cada uma dessas unidades arquitetônicas amuralhadas possui ruas, bairros residenciais, templos piramidais, praças, necrópoles, depósitos, jardins irrigados, cisternas e corredores. É provável que dispunha de sistema de canalização artificial que partia dos vales situados acima do vale do Moche, para abastecer a cidade de água e manter a agricultura, caso contrário não teria condições de permitir a sobrevivência das pessoas. Admite-se que no seu auge, chegou a abrigar 100 mil habitantes entre civis e militares.


Uma das características da capital chimu é o refinamento da arquitetura, com seu muros e paredes dos edifícios decorados com nichos e baixos-relevos, originalmente estucados e com frisos. Os motivos decorativos representam peixes, pássaros e também seres antropozoomorfos, inspirados no mundo marinho. Mas há também desenhos geométricos.





...Nossa visita ao complexo se iniciou pela Huaca Arco Iris ou o Dragão, situada a 4 km de Trujillo. O Templo, do século 11 d. C. está rodeado por uma muralha, com um única entrada orientada para oeste.


A decoração está dedicada ao Arco Íris, como símbolo da fertilidade e das chuvas. Embaixo se observa um par de serpentes, uma com duas cabeças sustentando uma faca, para sacrifícios humanos e animais, a outra termina em um rabo de peixe, representando o masculino e o feminino.



Na parte de cima estão representados dançarinos em movimento, orientados para a entrada. Arqueólogos supõem que a sólida construção de adobe foi um dos mais importantes prédios de culto da civilização chimu.


...Por uma rampa, tivemos acesso a parte de cima, com 14 depósitos, onde encontraram evidências de oferendas e esculturas de madeira.


...Seguimos para Chan Chan. A única estrutura aberta à visitação é a cidadela Tschudi ou Nik - Ann. Esse complexo se encontra rodeado de uma muralha de 10 a 12 m de altura e 4 a 5 m de largura, em sua base. Tem uma extensão de 11 hectares, dividido em 9 ambientes.


O primeiro ambiente é a Praça Cerimonial, cujos muros apresentam relevos decorados com uma espécie de esquilos e líneas horizontais que representam ondas do mar. Ali era o local de grandes cerimônias, como o culto a Lua, que foi a divindade principal dos chimus e ao governante, com danças e músicas, na presença e convidados.


Passamos por um corredor, Corredor de Peixes e Aves, cujas paredes possuem relevos da vida marinha e está dividido em duas partes; a primeira estão peixes que se dirigem de norte a sul, representando a Corriente del Niño (águas quentes) e a segunda parte, com os peixes se dirigindo de sul para norte, representando a Corriente Peruana ou Humboldt (águas frias). Na parte baixa, a representação de pelicanos.



O setor de maior expressão artística corresponde à Sala de Audiências ou Adoratórios. Possuem uma estrutura com nichos que continham ídolos de madeira. Está ornada com bonitos alto-relevos, como paredes em forma de rede de pescar, com frisos de aves, figuras geométricas. Acredita-se que foram espaços dedicados a culto e recepção de oferendas ou tributos para as divindades.





Há uma segunda Praça Cerimonial no setor central e sua planta guarda semelhança com a primeira, mas não possui ornamentos, por conta de desastres naturais, como a chuva. Este espaço era, provavelmente dedicado a celebrações e assuntos de caráter privado.


O Poço Cerimonial, medindo 148 m de comprimento, 48 m de largura e 6 m de profundidade, foi cenário de cerimônias destinadas ao culto da água e à fertilidade, com oferendas de humanos e animais. A água é proveniente da filtração do subsolo. Há dezenas desses poços na área de Chan Chan.


Por fim, o recinto funerário, Tumbas Reales, cujo centro da plataforma, era onde se enterrava o rei chimu, rodeado de tumbas secundárias, onde se enterravam esposa, concubinas, servidores e guerreiros.


Rampa de acesso à necropole
Em diferentes partes do Complexo se encontram setores para depósitos de alimentos, de armas e utensílios. Além de salas para guardar ídolos de madeira que serviam de oferendas para o governante e seus deuses.




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