Mais perto do céu é a sensação que se tem ao chegarmos na vila de Taquile, 200 metros acima do Lago Titicaca, no lado peruano, que já se encontra a 3.800 m.s.n.m. Considerado o mais alto lago navegável do mundo.
...À medida que avançávamos, alguns viajantes iam se acomodando nos bancos para uma soneca. Cerca de 2:30 h após termos deixado a Ilha dos Uros, começamos a contornar a Ilha Taquile.
...Nesse momento o guia passa a informar que o almoço será em um restaurante na comunidade que fica no topo da montanha que forma a ilha, à 200 m acima do Lago. Para chegar lá existem 2 caminhos: uma trilha de quase 1 km com várias subidas e uma escadaria. Eu tinha me esquecido completamente da existência dos 538 degraus!
...O guia escolheu a trilha e lá fomos nós. Nem precisa dizer que os "gringos" subiram na maior facilidade. Mas, a brasuca aqui, uma peruana de "peso" e um casal de Lima, fomos os últimos a chegar, após quase uma hora.
...Fiz inúmeras paradas para descanso. A bela paisagem compensa o esforço. À medida que subíamos, passávamos por casas e ovelhas pastando.
A trilha é feita de pedra e dotada de arcos rústicos, que dão o toque de originalidade.
...Muitos taquilenhos nos ultrapassaram, alguns com cargas de mantimentos nas costas, dando a impressão que nenhum peso carregavam, já que é a única forma de se abastecerem com os produtos que chegam da cidade.
A agricultura, o artesanato e a pesca é a base da atividade desse pueblo de língua quéchua. Na praça principal há um grande prédio onde é vendido o artesanato que é feito pelos homens. Ali eles tecem bolsas, gorros, cachecóis e outros objetos que usam ou vendem. Tudo funciona como uma cooperativa, o que vendem é repartido por todos.
...Mas, ainda não tínhamos chegado ao restaurante e por umas ruelas, entre casas de pedra, subimos mais um pouco até nos depararmos com a varanda do simples e pequeno restaurante familiar: estávamos em frente à magnífica vista do lago Titicaca!
...Escolhi uma truta do lago e sopa de quinoa, que de quinoa tinha muito pouco. Este é um cereal típico dos Andes e desde a época dos incas já era consumido pela população. Porém, ao serem divulgadas as suas nutritivas propriedades, passou a ser produto de exportação e ter seu preço inflacionado, dificultando até mesmo a aquisição pela população mais carente da região, explicou o guia. O almoço foi finalizado, não sem antes experimentar o chá de muña.
...Durante o saboroso almoço, tivemos a explicação sobre os costumes e trajes dos locais. As roupas são diferenciadas conforme o estado civil de cada um. As mulheres casadas se vestem comumente com uma saia preta e blusa de cor sóbria. Sobre a cabeça, um xale negro. As solteiras têm roupas vivas e o xale com coloridos pompons nas pontas. Os homens usam calça e colete pretos e uma cinta larga e colorida na cintura. O gorro é o que diferencia o estado civil. O solteiro usa gorro branco e vermelho, se estiver comprometido tem o pompom do gorro para o lado, se estiver disponível o usa para trás. o homem casado tem o seu gorro vermelho.
Vivem de forma harmoniosa, onde o companheirismo e reciprocidade é o comum. Os conflitos e necessidades são discutidos em um conselho e as resoluções são tomadas pelo líder da comunidade. Ainda hoje seguem um conjunto de leis básicas herdadas dos seus antepassados:
Ama Sua – Não seja ladrão.Ama Kella – Não seja preguiçoso.
Ama Llulla – Não seja mentiroso.
O resultado disso? criminalidade praticamente zero. Será que não teríamos o que aprender com esse povo?
Como em vários outros lugares do Peru, aqui também existe uma lenda sobre os primeiros incas. Conta-se que o Império Inca surgiu quando o primeiro rei, Manco Capac, filho do deus Sol imergiu do lago Titicaca. Ao seu lado surgiu também Mama. Antes de irem a Cusco, onde fundariam sua capital, fizeram uma parada na Ilha Taquile. Mama ensinou as mulheres a fazer fios, a cozinhar e cuidar de suas casas. Manco Capac ensinou aos homens a agricultura e também a tecer. Tudo isto sob uma condição. Os conhecimentos sobre a tecelagem nunca deveriam deixar a ilha. Por isto, até hoje são os homens que tecem em Taquile e seu artesanato é diferenciado.
...Chegou a hora de partir. Precisávamos descer até o porto. Mesmo“morro abaixo”, esforço foi exigido para os mais de 500 degraus.
...Uffa...depois de 538 degraus...
...O retorno foi tranquilo e quase todos se entregaram aos braços de Morfeu, enquanto a lancha avançava pelas tranquilas águas do Titicaca. Chegamos em Puno ao final do dia.
Apesar dos aspectos negativos que o turismo possa trazer, creio que o saldo é mais positivo para essas comunidades, já que a preservação da cultura dos ilhéus, principalmente a tecelagem feita pelo homem, mesmo que tenha o apelo turístico, gera renda e permite melhorias para eles.
Na própria recepção do hotel, em Puno, fiz a reserva e paguei o passeio de barco para as Ilhas dos Uros e Taquile. No dia e horário combinado o transfer me levou do hotel até o porto de Puno, no Lago Titicaca, onde pegamos a lancha. Ao final do passeio me deixaram no hotel em que estava hospedada.
Você pode escolher apenas uma ilha (Ilha dos Uros é a mais visitada) ou combinar as duas (Uros e Taquile), com ou sem refeição incluída. No caso, o almoço.
Há a possibilidade de ir por conta própria, pegando um barco no porto, como também dormir em uma casa dos moradores.
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