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Nasca, o Enigma no Deserto


Em pleno século 21, quando todo o desenvolvimento científico nos permite realizar viagens aos cantos mais internos do nosso corpo ou nos deleitarmos com a infinitude do  espaço,   pouco se conhece como foram construídas algumas das misteriosas paisagens que se podem encontrar ao redor do planeta. As Linhas de Nazca, no Peru, são das mais intrigantes.


Em uma das zonas mais áridas do Peru se encontra a cidade de Nasca, mundialmente conhecida por suas enigmáticas líneas. À região se chega pela Rodovia Pan-americana. Partindo-se de Lima, fica a 450 km ao sul. Ocupa a costa desértica do Pacífico (550 m.s.n.m.), onde quase não chove e o clima é quente e seco, prepare-se para muita poeira.


O conjunto de figuras e desenhos geométricos está situado nos arredores da rodovia (22 km ao norte de Nazca). As figuras tem medição precisa e são formadas por uma linha contínua. Há macaco ("mono"), colibri, aranha, orca, "astronauta" e muitas linhas retas e trapézios.

Era final dos anos 1920 quando se estabeleceu a aviação comercial entre Lima e Arequipa permitindo que se descobrisse mais um mistério em terras peruanas. Afinal, como, por que e por quem foram feitos os desenhos naquela área desértica de Nazca?


Diversas interpretações foram feitas por cientistas, estudiosos e leigos fascinados pelas antigas culturas das Américas. A mais famosa se deve à alemã Maria Reiche, que viveu até seus últimos dias defendendo a conservação dos geoglifos (nome das figuras feitas no chão) e a hipótese de que se tratava de um calendário astronômicos. Mas, antigas estradas, projetos de irrigação e pista de pouso para extraterrestres foram outras hipóteses sugeridas nos últimos anos. Todas elas, descartadas.


O Projeto Nasca-Palpa (projeto peruano-alemão) tem se dedicado nos último 14 anos a desvendar esse mistério. Segundo seus estudiosos, a região costeira do Peru e norte do Chile é um dos lugares mais secos do mundo. Rios que desciam dos Andes seriam responsáveis por vales férteis, assim como foram o delta do Nilo e os rios Tigre e Eufrates. Dessa forma seria um lugar perfeito para o surgimento de povoados, a despeito de ser um ambiente de alto risco para ocorrerem poucas chuvas e os rios secarem.


É provável que o povo nasca tenha emergido da cultura anterior, os paracas em 200 a.C. e florescido por 8 séculos. Foram agricultores e ceramista refinados. Criaram uma técnica que misturava mais de 10 pigmentos minerais em argila diluída para fixar as cores pelo calor.


Acredita-se que da costa do Pacífico até altitudes de 4,6 mil metros, nos Andes, tenham formado povoados e em quase todos com geoglifos, criados com a retirada das pedras escuras superiores, expondo a areia branca de baixo. O esforço comunitário pode ter sido o responsável pela feitura e manutenção das linhas. Mas, o que suspeitam é que elas evoluíram de meras imagens para rotas de procissões cerimoniais. Com o crescimento populacional, os geoglifos adquiriram padrões geométricos amplos e se antes eram imagens para serem vistas, passaram a ser etapas a serem percorridas a pé, em rituais.


Mesmo com a aridez, rios subterrâneos permitiram a construção de aquedutos para o abastecimento. O que se verifica ainda nos dias de hoje. Para que houvesse a manutenção dessas águas, o povo andino, por séculos, venerou deuses incorporados em montanhas, pois delas que surgiam os recursos hídricos, fundamentais para a manutenção da vida. Dessa forma, as pesquisas atuais supõem que um dos objetivos das Linhas estariam relacionada ao culto desses deuses, devido a sua ligação com a água.

No entanto, os geoglifos foram feitos em lugares, épocas e propósitos diferentes e nem sempre estavam dispostos no chão. É o que se observa numa encosta, próxima à cidade de Palpa, que serve de base para três figuras humanas estilizadas de olhos esbugalhados e cabelo raiado. Acredita-se que sejam de 2,4 mil anos atrás e pertençam à cultura paracas, bem anterior à nasca.


Uma outra atração da cidade é o Cemetério de Chauchilla, a 30 km, repleto de túmulos, porém poucos foram restaurados e possuem múmias agachadas e enroladas, com cabelos escuros sobre seus crânios esbranquiçados.


A cultura Nasca dominava técnicas de mumificação e o clima seco do deserto permitiu a conservação por séculos das múmias, até que os huaqueros (saqueadores especializados em vender para colecionadores peças retiradas de tumbas) invadissem essa área, roubassem e destruíssem muitas delas, espalhando pedaços de ossos pelo terreno, mas levando os objetos de valor que ali eram também enterrados.


O guia mostrou os fragmentos de ossos espalhados pelo sítio, ali deixados pelos ladrões de túmulos.  Foi uma forma de perpetuar a lembrança de que além dos pertences, também foram roubados, para sempre, a identidade de um povo que viveu entre 1000-1400.



A minha estada naquele deserto foi breve, o suficiente para ver alguns geoglifos dos mais de 70 que se distribuem entre Nasca e Palpa, cujo conjunto de figuras geométricas e de animais, que estão conservadas até hoje por conta da ausência de chuvas no local, foi declarado Patrimônio da Humanidade em 1994.


Como ir|
Avião:  Excursão a partir de Lima. Desce em Nasca e embarca num pequeno avião para o sobrevoo. Sai caro!
ônibus: Pela Pan-americana, de Arequipa (9-10 h) ou de Lima (6-7 h). Pode vir de Cusco (13-14 h). Não há terminal rodoviário. Cada empresa tem sua própria garagem onde ocorre o embarque/desembarque( geralmente na Calle Lima).
  • Não vale a pena pernoitar. Pode  sair à noite de uma dessas cidades, chegar logo cedo, ver o que interessa e ir embora. Um dia é suficiente para ver as principais atrações. Neste caso já tenha a reserva do voo ou procure reservar imediatamente quando chegar.
  • Para quem dispõe de pouco tempo, é melhor já chegar em Nasca com todos os passeios devidamente comprados.
Eu fui de Arequipa (ônibus da Cruz del Sur, bus cama, muito confortável)), viajando à noite toda (perdi de ver a bela paisagem, mas pelo tempo que dispunha, foi ideal). No mesmo dia, à noite, viajei para Paracas ( ônibus da Oltursa, confortável, aproximadamente 2:30 h).
Caso precise pernoitar, há alojamento com preços variados.

Caso precise pernoitar, há alojamento com preços variados.
Hotel Alegria


Para ver as Linhas de Nasca|
 Do alto, em pequenos aviões.
  • Escolha bem a empresa aérea. Pode contratá-la diretamente ou através de agências.  Quando fui o preço estava variando U$ 100/120, cada ingresso.
  • Prefira fazer o passeio das linhas pela manhã (melhor visibilidade).
  • Não coma  ou coma leve antes do passeio (risco de enjoo, por conta da turbulência e manobras do pequeno avião).
  • Os aviões têm capacidade, geralmente, para 3 pessoas e o voo dura cerca de 30 minutos. Pode durar mais se prolongar o voo para a região de Palpa.
Dos Mirantes
Existem dois ao longo da Rodovia Pan-americana.
  • Vê-se pouca coisa. Linhas, trapézios, um peixe, algo parecido com uma árvore. Porém você fica tendo uma ideia do tamanho das figuras e como foram feitas.
  • Um das plataformas de visão fica ao lado das figuras que estão numa encosta, próximo à Palpa.
  • Você pode contratar um táxi ou pegar um ônibus que passe na altura do Km 420 da Rodovia, caso não consiga ter esse passeio incluído num pacote.
  • Em Palpa se pode visitar um pequeno museu com exposição de objetos produzidos pelos povos que ali viveram.
Cemitério de Chauchilla
  • 30 km de Nasca. Pode ir em passeio organizado ou contratar um taxi (negocie).

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