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Copacabana


Nas margens do Lago Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo, e aos pés do Cerro Calvário está a pequena cidade, atualmente o maior centro de peregrinação da Bolívia em virtude de abrigar a imagem da Virgem de Copacabana, santa mais reverenciada do país.


A cidade ribeirinha a 155 quilômetros de La Paz e a 3 841 m.s.n.m. está repleta de história e lendas onde, desde a época dos incas, já estava ligada ao aspecto religioso e ritualista, afinal teria sido aquela região o berço dos fundadores do  grande império.


No entanto foram encontrados vestígios de ocupação humana bem mais antigos, provavelmente do povo aimará que já se encontrava na área muitos séculos antes da chegada dos incas.


Não só tem sua importância religiosa, mas também é um ponto turístico por conta de sua praia, que, apesar de ter águas frias, é ideal para vários esportes aquáticos, além de ser a porta de entrada para a bela e sagrada Isla del Sol.



Parar em Copacabana durante a minha viagem pelos Caminhos Andinos,  foi um belo momento de relax, onde todas as manhãs e ao entardecer tinha o lindo visual das tranquilas águas do Titicaca que embelezavam a minha janela no Hotel Rosário del Lago.



A cidade tem o seu nome derivado da expressão kota kahuana do dialeto Aimara, que significa "vista do lago". Cercada pelos morros Kesanani e Calvário, tem nesse último um ponto de encontro para os penitentes que o sobem carregando pedras, os seus “pecados”.


Certo é que eu não estava ali para pagar meus pegados, mas mesmo assim resolvi subir o Calvário. Ofegante com a ingrime trilha de pedras, valeu a pena todo o meu esforço ao me deparar com o magnífico visual. Mas essa aventura ficou para meu segundo dia na cidade, porque no mesmo dia em que cheguei de Puno, no Peru, embarquei na lancha reservada pelo hotel para ir conhecer a Ilha do Sol.


No terceiro e último dia na cidade foi a vez de ir conhecer a Catedral. Pela manhã saímos do hotel, eu e o guia que, à medida em que caminhávamos para o centro da pequena cidade, dava-me informações sobre a origem da imagem da padroeira local.

A Catedral vista do Cerro Calvário

O Cerro Calvário, visto do pátio da Catedral
No século 16, a imagem da Virgem de Copacabana foi talhada pelo índio Tito Yupanqui. Mas por possuir fortes traços indígenas em suas feições e a acharem tosca, foi rejeitada pelos religiosos da época. Apesar de triste, o indígena não desistiu e em nome de sua fé, fez várias tentativas, até obter a escultura que foi aprovada pela Igreja. Em 1925 a virgem foi considerada pelo Vaticano a santa padroeira da Bolívia.

Tito Yupanqui
Porta da Catedral
Ao chegarmos em frente a Catedral, estava sendo realizada uma cerimônia muito comum em Copacabana: a benção de automóveis. Trata-se de um ritual que mistura a fé católica com ritos incaicos. O padre aproxima-se para benzer o automóvel e garantir sucesso ao seu dono e familiares.


Depois se inicia o agradecimento a Pachamama, que é a mãe-terra para os locais. Assim, são atiradas pétalas de flores e confete. Cerveja ou espumante são jogados em homenagem. Mas, naquele dia, vi que a bebida utilizada era um grande litro de coca-cola. Segundo o guia, a bebida varia de acordo com as posses do dono do carro. Esse ritual é conhecido como Challa.



Fizemos uma breve visita ao interior da igreja e de lá seguimos para uma rápida passagem pela feira, uma ótima oportunidade para vivenciar o dia a dia boliviano e encontrar as típicas Chollas.


Logo após o almoço, a van do hotel nos transportou até a capital boliviana. Essa foi mais uma linda viagem pelo Altiplano Boliviano (veja aqui).


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